PIB decepciona, mas segundo semestre será melhor, dizem economistas

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Por João José Oliveira |A maior queda do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro na atual série histórica já era esperada por economistas, mas o tombo foi ainda mais forte que as projeções. Para profissionais de mercado, consultores e professores, o resultado seria ainda pior se não fosse pela agropecuária e pela atividade extrativista.

A expectativa dos economistas é de melhora dos indicadores no segundo semestre, com volta da produção industrial e do consumo das famílias. Mas, nessa reação da economia, um fator que preocupa os analistas é o nível de investimentos, que precisa aumentar.

O PIB encolheu 9,7% na comparação com o primeiro trimestre de 2020 e 11,4% em relação ao segundo trimestre de 2019, puxado principalmente pela retração do consumo das famílias. Dez anos de atraso “Na área da economia, o Brasil regrediu mais de 10 anos, bastante afetado pelos efeitos do coronavírus”, disse o economista e coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero.

“O PIB veio um ponto percentual abaixo das expectativas. No quesito saúde, o Brasil é o oitavo pais em mortes por habitante, e no quesito perda de PIB por conta da pandemia não está entre os melhores”, afirmou o economista Roberto Troster, sócio da Troster & Associados, pós-graduado em banking pela Stonier School of Banking, ex-economista chefe da Febraban (Federação Brasileira de Bancos).

Agronegócio evita o pior Economistas apontam que o desempenho do agronegócio foi determinante para evitar um tombo ainda maior do PIB brasileiro no segundo trimestre. “Mais uma vez, a agropecuária salvando o Brasil e amenizando as perdas”, disse o chefe de Renda Variável da Messem Investimentos, William Teixeira. Na comparação com o primeiro trimestre, a agropecuária cresceu 0,4% no segundo trimestre.

Luz no fim do túnel Alguns analistas destacaram que a abertura do PIB permite enxergar alguns dados positivos na economia brasileira no segundo trimestre. “O PIB veio abaixo do esperado, mas essa piora foi determinada mais pelo lado do setor público. Já os outros itens vieram em linha, como a Indústria”, afirmou a economista-chefe da GAP Asset, Anna Reis, citando a queda de 8,8% no consumo do governo —uma redução que ela não esperava.

“O cenário dos serviços é mais desafiador, com retomada mais lenta por causa do isolamento social, mas a indústria já mostra uma cara bem melhor”, afirmou a profissional. O recuo da indústria, de 12,3%, veio menos ruim que os 15% que Anna Reis estimava. Por isso mesmo, a economista manteve a projeção de PIB para 2020, em uma retração de 4,5%, trabalhando com um ambiente de retomada da atividade econômica até dezembro. Segundo o Boletim Focus, do Banco Central, com projeções do mercado para a economia, o PIB brasileiro deve fechar 2020 com retração de 5,3%.

Nível de investimento preocupa O desafio daqui para a frente, dizem os economistas, é manter o motor da retomada do consumo funcionando sem solavancos. E isso passa pela manutenção de programas de auxílio para as famílias e de crédito para as empresas, dizem analistas. “A queda do PIB denota a gravidade da recessão. Daí a necessidade de expandir o prazo de concessão do auxílio emergencial. Não apenas pelo impacto social da medida, o que por si só a justificaria, mas também pelo seu impacto econômico positivo, ao estimular a atividade. Dada a elevada propensão a consumir dos assistidos, os recursos são imediatamente injetados na economia, elevando a demanda efetiva”, afirmou o professor e diretor da Faculdade de Economia e Administração da PUC, Antonio Correa de Lacerda, também presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon).

“A queda chocante do consumo das famílias já era esperada. Mas, para mim, o dado mais importante é o de investimento. A queda da Formação Bruta de Capital Fixo e o percentual do investimento ante PIB são preocupantes porque desses indicadores depende a nossa retomada”, disse o economista chefe do banco digital Modalmais, Alvaro Bandeira. Os investimentos recuaram 15,4% no segundo trimestre de 2020 em relação ao primeiro, principalmente por conta da queda na construção e na produção interna de bens de capital (como maquinários e outros equipamentos para produzir bens de consumo). Somente importação de bens de capital cresceu no período.

Já taxa de investimento no segundo trimestre de 2020 foi de 15% do PIB, mantendo-se abaixo da observada no mesmo período do ano anterior (15,3%). A taxa de poupança foi de 15,5% contra 13,7% no mesmo período de 2019. 

Fonte: UOL São Paulo

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