Pantanal tem 16 tipos de vírus e aumenta o risco de transmissão

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Por Joanice de Deus |O impacto dos incêndios florestais nas condições de saúde das populações afetadas foi abordado, na quarta-feira (14), em audiência pública coordenada pela Comissão Externa de Queimadas em Biomas Brasileiros, da Câmara dos Deputados, em Brasília.

Na oportunidade, a chefe da Biodiversidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), pesquisadora Márcia Chame, alertou para a “situação de emergência de zoonoses”, por conta da destruição pelo fogo do Pantanal.

“Estudos recentes da Fiocruz mostram a presença de 16 espécie de vírus no Pantanal com potencial médico, além de seis espécies absolutamente desconhecidas da ciência e cujos impactos também são desconhecidos”, informou Chame, que esteve há poucos dias no bioma mato-grossense e onde ficou por pouco mais de uma semana.

Na audiência, transmitida pela internet, a pesquisadora enalteceu o trabalho dos profissionais que estão atuando no combate às chamas, entre eles, homens do Corpo de Bombeiros, das Forças Armadas, brigadistas, voluntários, Ongs e estudantes e técnicos de universidades.

“Nós trabalhamos a 49º de temperatura no interior de Mato Grosso todos os dias, e com as áreas em fogo chegando a 800ºC e com temperaturas bastante avançadas de 55ºC até um centímetro da terra. Então, nem os animais que conseguem escavar e se esconder ficaram protegidos das chamas. E isso traz para gente uma outra dimensão, que é a perda da microbiota do Pantanal, dos nossos estoques de sementes, o que vai comprometer e vai haver arranjos biológicos com uma restauração bastante diferente do que a gente tem hoje e que precisa ser monitorado e acompanhado”, disse.

Com 40 anos de pesquisa de campo, a chefe da Biodiversidade lembrou que as queimadas resultam em um impacto muito ruim, mas que nunca, em outras ocorrências, presenciou tantos bichos mortos como agora.

“Animais de grandes portes que sabemos que estão dispersos em grandes áreas, mas que numa área de dois quilômetros foi possível contar 14 antas adultas carbonizadas. Isto é extremamente impactante porque nos mostra o rompimento de toda uma cadeia alimentar que vai comprometer todo um processo de restauração do bioma, com impacto à saúde e econômico de maneira bastante importante”, afirmou.

Ao citar também os possíveis impactos provocados pelas cinzas resultantes da queima na qualidade da água e, consequentemente, piscicultura, Chame reforçou sua preocupação em relação a situação de emergência de zoonoses.

“Com o impacto da perda de várias espécies, o que nós devemos monitorar é justamente o deslocamento de diversas espécies para áreas que não foram queimadas. E, essas áreas são onde vivem as pessoas e onde estão algumas das criações das atividades agropecuárias”, disse.

“Nesse sentido, é possível, até porque já estamos acompanhando isso na Amazônia, ocorrer o aumento de raiva transmitida por morcegos e de hantavirose (disseminada por roedores) na medida que as próximas chuvas vão criar um brotamento de gramíneas utilizadas no pasto, de gramíneas exóticas que vão fazer uma floração e provocar acúmulos e aumento de populações de algumas dessas espécies. Isso diz respeito diretamente à vigilância em saúde, que tem que ser integrada com essas questões ambientais”, acrescentou.

Para ela, é preciso fazer uma avaliação imediata desses impactos diretos, indiretos, crônicos e agudos na saúde humana.

“E, ampliar a vigilância de epizootias em toda essa área. Nós já estamos trabalhando com o Ministério da Saúde, mas temos que capilarizar isso para os estados, municípios e a sociedade”, recomendou.

A pesquisadora apontou, ainda, a necessidade da criação de uma rede de informação e dados de amostras biológicas, cuja importância vem sendo mostrada pelo novo coronavírus com o rompimento da barreira biológica de um agente infeccioso para a população humana.

Entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o fogo já destruiu mais de 3 milhões de hectares da maior área úmida do planeta somente neste ano.

Coordenada pela deputada federal Rosa Neide (PT), a comissão externa esteve no local em setembro passado e tem ouvido diversos segmentos atingidos pelo desastre.

Na quarta-feira, também participaram da discussão o presidente do Conselho Nacional de Saúde, Fernando Zasso Pigatto; o representante do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) Leonardo Moura Vilela; e o integrante do Grupo de Trabalho de Ambiente e Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Marcelo Firpo.

RETARDANTE – O retardante de chamas, que tem sido usado no combate aos incêndios que consomem o Pantanal e castigam a Amazônia e é defendido como solução pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, requer uma série de cuidados em sua aplicação e deve ser aplicado somente em último caso.

No Estado, o uso do produto foi anunciado pelo ministro durante um sobrevoo no Pantanal, acompanhado do governador Mauro Mendes (DEM), sobre as áreas destruídas pelo fogo, em agosto passado.

As recomendações constam de uma nota técnica do Ibama, datada de junho de 2018.

Um dos cuidados recomendados pelo texto é a suspensão do “consumo de água, pesca, caça e consumo de frutas e vegetais na região exposta ao produto pelo prazo de 40 dias, considerando que os produtos se degradam em cerca de 80-90% em 28 dias”.

Segundo o parecer técnico, o Fire Limit, que é usado no Brasil, é biodegradável, não é composto por metais pesados e apresenta baixa toxicidade para humanos e determinadas espécies aquáticas. Mesmo assim, a nota afirma que, além de ser considerado como última opção em combate a incêndios florestais, deve-se evitar o uso do produto em APAs (áreas de preservação permanente), como margens de rios, “reduzindo assim o risco de contaminação de ecossistemas aquáticos e de possíveis locais para captação de água ou pesca para consumo humano”.

Fonte: Diário de Cuiabá

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