O machismo como sistema de opressão de todos
O machismo parte da ideia de que homens são seres viris e superiores às mulheres e, por isso, têm direito a mais poder e privilégios maiores. Essa crença se manifesta em diversos aspectos da vida social, cultural e política, influenciando a forma como homens e mulheres se relacionam e como a sociedade é organizada. É importante desconstruir falácias diversas falácias sobre o machismo para que possamos todos combatê-lo.
“Mais homens morrem do que mulheres”
Essa afirmação ignora a violência direcionada às mulheres. A realidade é que, sim, mais homens morrem no Brasil, mas a causa é a violência, e os homens morrem mais por causa da violência entre eles, enquanto as mulheres são vítimas principalmente de feminicídios. A violência contra a mulher é um problema específico e um resultado direto do machismo. Por isso, não pode ser comparado com as agressões entre homens.
“Homens tinham o direito de votar pois eram enviados à guerra”
A guerra, além de historicamente ser resultado de conflitos gerados por homens, não é um argumento válido para justificar privilégios masculinos. O direito ao voto era, na Grécia Antiga, relacionado à posse e à liberdade: apenas homens que possuíssem propriedades poderiam votar. Entre os povos celtas e hindus, os druidas (considerados sacerdotes entre essas populações) eram responsáveis pela escolha dos líderes.
Com a evolução da humanidade, o voto passou a ser reivindicado como um direito humano fundamental e exigido por grupos marginalizados, como a população negra, grupos indígenas e as mulheres. A participação das mulheres na sociedade e na política é fundamental para a democracia.
“Machismo é uma ideia neutra”
O machismo não é uma ideia neutra, já que seu conceito básico remete à uma superioridade dos homens frente às mulheres. Por isso, não é possível pensar nele em nada além de um sistema de opressão que causa danos reais às mulheres e, também, limita a liberdade dos homens.
“As mulheres são mais privilegiadas que os homens”
Essa argumentação é baseada em estereótipos de gênero e ignora as inúmeras responsabilidades e dificuldades que as mulheres enfrentam. A preferência em situações de emergência ou o benefício de aposentadoria mais cedo, por exemplo, foram pensados para garantir algum privilégio masculino.
No primeiro caso, as mulheres são as principais responsáveis pelo cuidado das crianças e também pela perpetuação da espécie; na segunda, mulheres se aposentam antes como forma de compensar o trabalho doméstico a que são submetidas antes e depois do horário do expediente.
“Existem diferenças naturais de cada sexo”
As diferenças entre homens e mulheres são socialmente construídas, não naturais. Todos os estudos científicos, feitos de forma séria e imparcial, não conseguiram encontrar diferenças fisiológicas entre os dois sexos.
O que acontece é a imposição, por parte da sociedade, a papeis e comportamentos de acordo com o gênero, limitando as mulheres e negando sua capacidade e potencial. Dizer que existem diferenças intelectuais ou físicas entre os sexos é perpetuar séculos de preconceitos e ignorar todas as evidências científicas.
Os perigos da sociedade patriarcal
A sociedade patriarcal é a base do machismo estrutural, definindo que os homens ocupam posições de poder e domínio sobre as mulheres, com as regras e os papéis de cada gênero muito bem estabelecidos. Sendo assim, podemos dizer que o patriarcado se manifesta em diversas esferas da vida:
Família
O modelo familiar que posiciona o homem como chefe de família e a mulher responsável pelos cuidados domésticos, é um reflexo e uma consequência do patriarcado. Essa estrutura impacta a vida das mulheres, já que limita suas oportunidades de trabalho, de estudo e de participação na vida pública.
A situação atual do Afeganistão, onde as mulheres estão perdendo a liberdade de falar alto em público sob o risco de serem mortas por apedrejamento é um exemplo de sociedade patriarcal;
Trabalho
As mulheres ainda enfrentam muitas desigualdades no mercado de trabalho. Desde menos acessos a oportunidades por condições como a pobreza menstrual, a obrigação de cuidar da família e até mesmo assédio no ambiente de trabalho, até os salários, menores que os dos homens mesmo com trabalhos iguais.
A ascensão profissional também é um obstáculo: hoje, apenas 39% das lideranças de empresas brasileiras são de responsabilidade feminina. Se lembrarmos que só em 1962, com o Estatuto da Mulher Casada, é que as mulheres passaram a poder trabalhar independente de serem casadas ou terem uma autorização do marido, é fácil entender tanta desigualdade de gênero.
Política
Considerando que o voto feminino só foi instituído por lei em 1932, fica claro como as mulheres estão sub-representadas nos cargos políticos. Isso significa não apenas que temos menos mulheres na política, mas dificuldades reais de acesso a posições de poder e de influência nas decisões que afetam a sociedade.
Cultura
A cultura patriarcal perpetua estereótipos de gênero, associando as mulheres à fragilidade, à submissão e aos cuidados domésticos e os homens à força, à autoridade e à competitividade. Essa construção cultural do “coisa de mulher” vai muito além de uma simples brincadeira, impactando a forma como homens e mulheres se veem e se relacionam no mundo.
Se as mulheres são frágeis, os homens só podem ser fortes. Se as mulheres são atenciosas, os homens não podem ser carinhosos. O prejuízo é coletivo.
O machismo na sociedade atual
É inegável que apesar dos avanços em direitos das mulheres nas últimas décadas, o machismo continua a ser uma realidade presente na sociedade atual. A violência contra a mulher, o assédio sexual, a discriminação no mercado de trabalho e a sub-representação feminina na política são apenas alguns exemplos de como o machismo se manifesta em nossas vidas.
A Lei 13.104 que estabelece o Feminicídio como um homicídio qualificado, um crime hediondo e quando o assassinato envolve violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à condição de mulher da vítima, foi promulgada apenas em 2015. Até então, mulheres morriam por seus parceiros e/ou ex-parceiros e não havia nenhum agravante tipificado no Código Penal Brasileiro.
A própria Maria da Penha, que originou uma das primeiras leis de proteção às mulheres da violência de gênero, teve sua história descredibilizada por anos e sofre ameaças da extrema-direita até hoje. Não é incomum que mulheres que tentem denunciar seus parceiros (ou ex-parceiros) por violência doméstica, abuso ou até mesmo perseguição, sofram tentativas de descredibilização pelo sistema de justiça brasileiro.
Infelizmente, existem muitos exemplos na sociedade brasileira demonstrando quão forte é a presença do machismo na nossa realidade.
A cultura do estupro, por exemplo, que normaliza a violência sexual contra as mulheres, culpabiliza as vítimas e duvidando de suas alegações, é um reflexo do machismo enraizado na sociedade. A objetificação da mulher, num claro movimento de reduzi-la a um objeto sexual ou um corpo atrativo para o prazer masculino é uma das formas mais comuns de manifestação do machismo.
Um episódio que retrata essa objetificação é o do “pintou um clima” do ex-presidente Bolsonaro. Além da questão séria de objetificar mulheres para satisfazer o desejo de um homem, a fala é ainda mais problemática por se tratarem de meninas menores de idade – o grupo que mais sofre violência sexual de familiares e pessoas próximas, que frequentam o ambiente doméstico.
O feminismo como ferramenta de combate ao machismo
O feminismo é um movimento social e político que defende a igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres. Ao contrário do que muitas fake news apontam, ele não prega a dominância feminina sobre os homens, mas uma sociedade em que todos sejam iguais.
Considerando os séculos de privilégios masculinos, assim como no racismo, as condições de igualdade precisam de políticas e iniciativas afirmativas para oferecer às mulheres mais oportunidades. Principalmente, porque já está mais do que claro que a capacidade existe.
Pensar em homens feministas não significa torná-los mulheres, mas capazes de perceber seus privilégios e capacitá-los para mudar as pequenas e grandes atitudes na rotina. Homens abraçando a causa do feminismo são homens dispostos a trabalhar por uma sociedade com igualdade entre gêneros, assim como as pessoas brancas fazem por um mundo sem racismo.
Principais conquistas do movimento feminista
A igualdade de direitos, mesmo que ainda não na sua totalidade, foi uma conquista do movimento feminista. Idealmente, o feminismo defende a igualdade de direitos entre homens e mulheres em todos os campos da vida, incluindo o direito ao trabalho, à educação, à saúde, à segurança e à participação política. Infelizmente, homens e mulheres precisam entender que não se trata de uma competição entre gêneros, mas uma luta por igualdade.
O combate à violência de gênero, algo que passou a ser mais evidente desde a promulgação da Lei Maria da Penha, é uma das bandeiras do movimento feminista. E todas as formas de violência contra as mulheres, incluindo a violência doméstica, o assédio sexual, o estupro e a mutilação genital feminina – algo que ainda acontece em diversos países pelo mundo.
A liberdade sexual e reprodutiva. O feminismo defende o direito das mulheres a decidir sobre seus próprios corpos, o que significa que suas vidas sexuais e reprodutivas devem ser uma escolha individual e pessoal. Na prática, isso representa um maior acesso à contracepção, ao aborto legal e seguro e à saúde reprodutiva, além da mudança de mentalidade de que a mulher não pode sentir prazer, já que o sexo deve ser apenas para fins reprodutivos.
A desconstrução de estereótipos também é uma conquista do movimento feminista. Por meio de muito debate e muita educação, reescreveu a frase “lugar de mulher é na cozinha” para sua versão mais moderna: “lugar de mulher é onde ela quiser”. O feminismo busca desconstruir estereótipos de gênero, promovendo uma visão mais equitativa e igualitária das mulheres e dos homens e trabalhando para derrubar as barreiras esquecidas com o tempo que dificultam tantas conquistas femininas.