Querido leitor, sei que a sua vida é corrida. Mesmo assim, humildemente, peço alguns minutos do seu tempo.
Nosso país passa por um momento muito difícil. “Jura?! Qual é a novidade?!” Eita lá! Muita calma nessa hora! OK. Todos sabemos que a situação é ruim. Mas você sabe mesmo qual é a realidade do Brasil? Senta que lá vem “textão”! Só que, infelizmente, não é uma história de ficção.
Não se engane com as propagandas em época de Olimpíadas, Copa do Mundo e eleição! Em sua grande maioria, o povo brasileiro é paupérrimo.
Em torno de 50 milhões de brasileiros, cerca de 25% da população, vivem na linha da pobreza e têm renda familiar mensal de aproximadamente R$ 387 – ou US$ 5,5 por dia, valor adotado pelo Banco Mundial para classificar uma pessoa como pobre. Os dados são da Síntese dos Indicadores Sociais, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2017.
A pobreza atinge diretamente as crianças de 0 a 14 anos de idade: 42,4% sobrevivem com apenas 5,5 dólares por dia.
No Brasil, a miséria também tem cor: entre os 10% da população com menores rendimentos, a parcela de pretos ou pardos chega a 78,5% contra 20,8% de brancos. No outro extremo, entre os 10% com maior renda, pretos ou pardos são apenas 24,8%.
Cerca de 28% da renda do país estão nas mãos de apenas 1% dos brasileiros – a média mundial é de 22%. Ao lado de Índia, Oriente Médio e África Subsaariana, o Brasil é um dos locais mais desiguais do mundo, segundo dados do World Wealth and Income Database (WID).
Em 2015, a renda média anual dos adultos no país era de R$ 37 mil (em torno de R$ 3.083 por mês). Porém, entre os 50% mais pobres, era de menos de R$ 9.200 (por volta de R$ 766 por mês). Os 10% mais ricos tinham renda anual de R$ 207.600 (R$ 17.300 mensais). Os 40% no meio – ou seja, que não estavam nem entre os 10% mais ricos nem entre os 50% mais pobres – tinham renda anual de R$ 30.500 (R$ 2.541 por mês).
No ranking mundial de educação, o Brasil ficou na 60ª posição entre 76 países avaliados. O levantamento foi divulgado em 2015 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Países asiáticos estão no topo do ranking: o 1´ lugar foi ocupado por Cingapura, seguida de Hong Kong e Coreia do Sul.
Talvez você esteja se perguntando o porquê de tanta pobreza, já que o Brasil é um país tão rico – o Produto Interno Bruto (PIB) em 2017 foi de R$ 6,6 trilhões, segundo o IBGE.
O fato é que a elevada concentração de renda resulta numa colossal desigualdade social. Essa elite (aquele “1% vagabundo”), o “crème de la crème” da sociedade brasileira, é composta majoritariamente por políticos, grandes empresários, servidores públicos de alto escalão e banqueiros. E a classe política representa muito mais os interesses dessa aristocacria do que a vontade da esmagadora maioria da população.
Por outro lado, vale aqui uma reflexão: você e eu escolhemos os nossos representantes no Congresso Nacional, ou seja, também temos culpa no cartório. Como disse Leandro Karnal, historiador da Unicamp: “Não existe país com governo corrupto e população honesta.”
Como mudar esse cenário? Use a arma mais poderosa que você tem: o seu voto. Escolha representantes “ficha limpa”, sem asteriscos na candidatura. Não fique reduzido à dicotomia esquerda versus direita, comunistas contra conservadores etc. Essa visão simplista e distorcida da democracia leva a um debate vazio que só interessa aos políticos, pois desvia o foco dos reais (e graves) problemas do Brasil.
Chega de votar no “rouba mas faz”, naquele que “arruma um trocado para ajudar” e demais eufemismos para ladrão do erário. Não vote em ninguém por aparência física (“só tem o meu voto porque é linda”), porque “fala grosso” ou simplesmente por dizer aquilo que você quer ouvir. Não faça como eles – coloque os interesses coletivos acima das suas “pós-verdades”.
Nessa eleição, não adote um corrupto de estimação!
Alexandre Guimarães é jornalista, professor e servidor público