Especial cuidado com a nutrição deve ser tomado com os idosos,
que tem um sistema imune prejudicado com o envelhecimento
Não existem alimentos mágicos. Mas hábitos alimentares saudáveis, com a ingestão dos nutrientes necessários de acordo com a fase de vida, tornam o sistema imune melhor preparado para enfrentar o novo coronavírus, o SARS-CoV-2, e a doença causada por ele, a COVID-19. Segundo a nutricionista Silvia Maria Franciscato Cozzolino, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP) e pesquisadora associada do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC), alguns micronutrientes, constituídos por minerais e vitaminas, têm um papel importante para reforçar o sistema imune.
“Os mais relevantes são o zinco (Zn), o selênio (Se) e as vitaminas A, C e D”, destaca. E todos eles têm função imunomoduladora. “O sistema imune é constituído por um conjunto de células que protegem o organismo contra microrganismos ou compostos desconhecidos que possam causar algum malefício. A nutrição pode modular essa resposta”, explica
Alguns micronutrientes também são essenciais para a ação de outros. É o caso do zinco, que atua no transporte de vitamina A, e do selênio, que age em conjunto com a vitamina E, protegendo as membranas celulares contra a peroxidação lipídica; ou seja, as alterações na estrutura das membranas celulares (Veja abaixo tabela com os alimentos ricos desses micronutrientes).
SARS-CoV-2 e idosos – Segundo a professora, a população idosa precisa de mais cuidados neste sentido uma vez que o sistema imune fica prejudicado conforme se envelhece. “São várias as razões: consumo de dietas desbalanceadas; próteses dentárias mal ajustadas que dificultam a mastigação; menor secreção de ácido clorídrico no estômago, que causa diminuição da absorção dos minerais e dificultam a digestão de proteínas, são alguns exemplos”, afirma.
Ela também chama a atenção para o maior uso de medicamentos que ocorre nesta fase da vida. “O uso contínuo de certos medicamentos pode causar disbiose, ou seja, desequilíbrio da microbiota intestinal e diminuição dos micro-organismos benéficos para a sua saúde”, destaca.
Segundo ela, com orientação nutricional adequada é possível, a médio prazo, a melhorar o estado nutricional geral do idoso. “A recomendação para os indivíduos idosos é que façam uso de suplementos vitamínicos e minerais que contenham doses baixas, próximas das recomendações de ingestão. Associado a essa suplementação, recomenda-se uma alimentação equilibrada, com arroz e feijão, carnes em geral, leite e derivados, ovos, vegetais folhosos e hortaliças e frutas variadas, e a ingestão de quantidades adequadas de água (30-40mL/kg peso corporal), evitando açúcares simples [de adição], excesso de sal e alimentos gordurosos”, afirma.
“O nutricionista é o profissional mais indicado para uma orientação adequada e de forma individualizada. Desta maneira, o organismo estará mais protegido, não apenas para enfrentar o coronavirus, mas também para se defender de outras doenças.”
Alimentos ricos em micronutrientes essenciais:Zinco: O Zn possui inúmeras funções no organismo. Além da sua importância no sistema imune, atua no transporte de vitamina A, pois a proteína responsável por essa função é dependente de Zn. As melhores fontes de Zn são os mariscos (a ostra em especial), carnes vermelhas, vísceras, fígado, peixes, ovos e cereais integrais. A recomendação de ingestão diária para adultos e idosos é de 8mg para mulheres e de 11mg/dia para homens, com um limite máximo tolerável de 40mg/dia, acima do qual existe a possibilidade de efeitos adversos. No quadro abaixo pode-se observar os teores de Zn em alguns alimentos.
Selênio: O Se é outro mineral muito importante para a saúde, devido ao seu poder antioxidante e ação no sistema imune. O Se age em conjunto com a vitamina E, protegendo as membranas celulares contra a peroxidação lipídica. A recomendação de ingestão diária para adultos e idosos é de 55mg, sendo 400mg/dia o valor máximo tolerado, pois o excesso pode levar a efeitos adversos. A castanha-do-brasil é o alimento mais rico em Se, mas deve ser ingerido apenas 1 ao dia. Dependendo da procedência, como por exemplo Manaus, AM, recomenda-se ingerir da castanha-do-brasil 1 a cada 3 dias. O teor de Se em outros alimentos pode variar de acordo com o teor desse elemento no solo e na alimentação dos animais de criação para consumo humano. A tabela abaixo indica os valores de Se em alguns alimentos.
Vitamina A: é outro nutriente com importante função imunomoduladora. Pode ser encontrada pré-formada, já na sua forma ativa, chamada de retinol, em alimentos do reino animal e nos precursores carotenoides provenientes dos vegetais. Os alimentos mais ricos são o fígado, óleos de fígado de peixes (ex. bacalhau) e os vegetais verdes escuros e alaranjados. Assim como as demais vitaminas lipossolúveis, o excesso na dieta
pode ser tóxico, principalmente para os idosos com comprometimento renal. A ingestão diária recomendada é de 900mg de retinol para homens e de 700mg de retinol para mulheres, sendo 3000mg de retinol o limite máximo para ambos. Na tabela abaixo podem ser vistos alguns exemplos de quantidades de Vitamina A nos alimentos.
pode ser tóxico, principalmente para os idosos com comprometimento renal. A ingestão diária recomendada é de 900mg de retinol para homens e de 700mg de retinol para mulheres, sendo 3000mg de retinol o limite máximo para ambos. Na tabela abaixo podem ser vistos alguns exemplos de quantidades de Vitamina A nos alimentos.
Vitamina C: é mais importante antioxidante do organismo em meio aquoso. Muito estudada, com inúmeras indicações para redução do risco e até cura de doenças, principalmente do trato respiratório, entretanto sem comprovação científica robusta. O consumo regular parece ser um fator auxiliar na redução da duração de episódios infecciosos. A recomendação de ingestão diária para adultos e idosos é de 75mg/dia para mulheres e 90mg/dia para homens, com valores mais altos para fumantes (95mg/dia). Embora sem efeitos tóxicos evidentes, uma vez que vitamina C em excesso é eliminado pelo organismo, quantidades muito acima das recomendadas (2,5 a 3,0g) podem causar desconforto intestinal (diarreia osmótica) e alterar resultados de exames clínicos (ex. diabéticos). Frutas em geral fornecem as quantidades de vitamina C necessárias para a ação esperada. A tabela abaixo indica valores de vitamina C em algumas frutas.
Vitamina D: outro nutriente relevante para o sistema imune, com importante função no tecido ósseo também. A síntese desta vitamina se dá pela exposição da pele humana aos raios solares UV-B. Além dos alimentos fortificados, os óleos de fígado de peixes são fontes naturais de vitamina D. Recentemente foi divulgado na imprensa que indivíduos que contraíram a COVID19 eram deficientes nessa vitamina, o que era de se esperar, pois os mais afetados pela pandemia eram os idosos, que têm menor exposição solar e pele mais ressecada, ou seja, a síntese da vitamina é menor. As recomendações diárias para adultos e idosos é de 600 UI (15 mg) e o limite superior é de 4000 UI. A tabela abaixo indica os alimentos mais ricos em Vitamina D.