Jogo de gente grande

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Nas eleições deste ano há uma coreografia envolvendo o prefeito de Cuiabá Emanuel Pinheiro, os irmãos Júlio e Jayme Campos, o Governador Mauro Mendes e o deputado federal Carlos Bezerra. No caso do Governador com os irmãos vimos essa discussão sobre a candidatura própria do Democratas a prefeito de Cuiabá, que foi colocada como condição para que eles não levassem o partido inteiro para apoiar a reeleição. Desde então vários nomes foram colocados e a discussão foi sendo adiada. Alguns secretários de Estado, depois o vereador Marcelo Bussiki, o presidente da Assembleia Eduardo Botelho e, com mais força, o ex-deputado federal Fábio Garcia. Nessa semana Garcia anunciou que não é candidato e que apoiará o ex-prefeito Roberto França. Isto garantiu a participação do Democratas num projeto de oposição à atual gestão, encabeçado pelo ex-prefeito que concorre com o atual na mesma faixa de eleitorado onde este é mais forte. Portanto, o objetivo estratégico do Governador foi alcançado. 

Saíram várias candidaturas de oposição com acesso a segmentos variados do eleitorado, como é o caso da Gisela Simona e do Abílio Júnior. Só precisamos ver como se darão os apoios na prática, uma vez que há também a candidatura de Júlio a suplente de senador na chapa de Nilson Leitão. As notícias apontam que houve uma trégua nessa matéria, com Mauro apoiando Fávaro e os Campos trabalhando por Nilson Leitão. A conferir. 

Outro aspecto importante a ser observado é o fortalecimento de Emanuel Pinheiro. Ele vem quebrando algumas regras consideradas de bom tom numa racionalidade política convencional. A principal delas é não concentrar muito poder, de modo a evitar que os outros se juntem contra ele para restaurar o equilíbrio do sistema. Optou por apoiar a eleição de seu filho para deputado federal sem carreira política prévia, baseado na sua força eleitoral no município de Cuiabá e também no peso da máquina da Prefeitura. Apesar da pouca idade, o deputado Emanuelzinho vem se destacando como um dos principais da bancada federal de Mato Grosso. Mas muitos entendiam este movimento como uma jogada arriscada, por possíveis ressentimentos que poderiam surgir entre os demais candidatos. 

Agora vem sendo articulada uma candidatura do deputado federal a prefeito de Várzea Grande, junto com a de seu pai a reeleição em Cuiabá. De novo a sabedoria política convencional recomendou escolher entre uma ou outra candidatura, de modo a não concentrar muito poder e/ou caracterizar o surgimento de uma nova oligarquia. Afinal, um dos grandes segredos da arte política é saber distribuir os recursos de poder ou, dito de outra forma, reconhecer o poder que cada um dos aliados tem. 

A presença de Emanuelzinho em Várzea Grande faz sentido, já que serve tanto a ele quanto aos Campos, porque amplia o eleitorado dele lá, introduz uma terceira via na eleição e quebra um pouco o discurso da oposição de lá contra a família. Mas precisamos ver como os outros reagirão a este arranjo inédito de pai e filho disputando as prefeituras das duas maiores cidades do Estado em população de forma simultânea. 

O deputado Carlos Bezerra já manifestou desagrado, porque o crescimento de Pinheiro o capacita a ser o sucessor natural do MDB em Mato Grosso. É claro que Bezerra quer conduzir sua própria sucessão com mais liberdade quando assim decidir. Outro movimento de Emanuel, desta vez em relação a Mauro Mendes, foi um possível apoio à candidatura de Pedro Taques a senador. Vejamos os próximos passos desse jogo de gente grande.  

Vinicius de Carvalho é gestor governamental, analista político e professor universitário.   

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