Fã que carregou Maradona em 1986 relembra seus dois momentos com o ídolo

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Roberto Cejas, 64, se encontrou com Diego Maradona duas vezes na vida. A última foi em 2014, durante a Copa do Mundo no Brasil. A primeira o tornou famoso na Argentina e fez com que seu telefone não parasse de tocar nos útimos dias.

Muita gente quer conversar com o homem que carregou o camisa 10 nos ombros, no estádio Azetca, no México, durante a festa de comemoração pelo título Mundial de 1986. Cejas afirma que, ao saber da morte de Maradona, na última quarta-feira (25), teve uma crise de choro incontrolável.

“Eu não podia acreditar. Não podia ser. Como Diego poderia estar morto? Estou destroçado”, disse ele à reportagem.
A foto em que aparece, 34 anos mais jovem, com Maradona sobre seus ombros e segurando a taça da Copa do Mundo, está enquadrada na sala de sua casa.

“Em 2014, uma emissora de TV entrou em contato comigo para perguntar se eu queria me encontrar com Diego. Claro que queria. Me disseram que ele desejava me ver. Fui ao Brasil durante a Copa do Mundo e, quando nos vimos, demos um longo abraço. Foi um momento incrível. Eu me lembro que era Dia dos Pais [na Argentina]”, recorda Cejas.

Abelardo Acceta relembra como foi carregar Pelé na Copa de 1970 A data era 15 de junho de 2014, quando a seleção estreou no Mundial do Brasil diante da Bósnia, no Maracanã. Maradona participava todas as noites do programa “De Zurda”, transmitido pela multiestatal da América Latina TeleSur.

Hoje Cejas lamenta não ter tido uma nova oportunidade, nos seis anos que se seguiram, de ter sua terceira conversa com Diego. “Mas eu sabia que seria difícil. Ele era uma pessoa muito ocupada.”

O torcedor invadiu o gramado do estádio Azteca com outros argentinos assim que o árbitro brasileiro Romualdo Arppi Filho apitou o fim da partida contra a Alemanha e começou a saltar em frente a câmeras de TV e fotógrafos, com a esperança de registrar para a posteridade que estava ali naquele momento histórico.

Ele correu de um lado para o outro e se aproximou do local onde os jogadores receberiam o troféu. Quando a cerimônia terminou, teve início a volta olímpica. Um dos seus amigos colocou o atacante Pedro Pasculli nos ombros. Cejas diz ter se aproximado para ajudá-lo. Foi quando viu Maradona próximo, a observar a cena, como que esperando que alguém fizesse o mesmo por ele.

“Eu apenas me abaixei, ele apoiou as pernas em torno do meu pescoço e o levantei. Começamos a dar a volta no gramado e Diego ia me dizendo para qual direção ir. Foi algo lindo. Gosto de dizer que estava naquele local e naquele momento por causa da mão de Deus”, afirma, usando a expressão criada por Maradona para definir seu primeiro gol contra a Inglaterra, nas quartas de final, marcado com a mão.

Cejas passou o trajeto inteiro pedindo coisas para Maradona. A camisa, depois os calções, as meias, as chuteiras. Não conseguiu nada.
“Ele já tinha prometido tudo para outras pessoas. Depois ganhei o calção de Oscar Garré [lateral esquerdo]. Coloquei em uma caixa quando cheguei em casa e nunca mais encontrei.”

Entrar no campo e carregar Maradona aconteceu de improviso, como toda a viagem do torcedor ao México. Antes da semifinal contra a Bélgica, ele havia decidido que, se a Argentina passasse, viajaria para ver a decisão. Pediu dinheiro emprestado para o pai, pegou alguns dias de folga no trabalho e embarcou, sem ingresso.

Ele se encontrou com seis amigos na Cidade do México. Haviam lhe dito ser possível comprar o bilhete por US$ 80, mas naquela altura nenhum cambista os tinha.

“Nós estávamos em sete e tínhamos quatro entradas. Fomos até a porta do Azteca e, na hora de passar pelo portão, as entregamos aos fiscais com pesos mexicanos enfiados entre elas. Deixaram todos nós entrarmos. Era tudo muito diferente naquela época. Imagine viajar para a final da Copa sem ingresso e conseguir entrar…”, se espanta ainda hoje.

Ele é grato pelo suborno que o permitiu ver a Argentina campeã e ter contato com Maradona.

Em 2014, chegou a dizer ao ídolo que poderiam se encontrar em Corrientes (a 800 km de Buenos Aires), para uma pescaria. O camisa 10 disse que claro, iriam marcar. Mas Cejas sabia ser impossível.

“Se estou arrasado pela morte de Diego, sou grato por esses momentos com ele.”

Por Alex Sabino
Folhapress – Buenos Aires, Argentina

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