As eleições municipais de 2024 em Mato Grosso revelam um cenário diversificado entre os candidatos, destacando avanços e desafios na representatividade racial e de gênero, conforme análise de estatísticas eleitorais e opinião de especialistas
Por Andréa Martins Oliveira
Com as eleições municipais de 2024 se aproximando, os dados sobre o perfil dos candidatos em Mato Grosso oferecem um panorama revelador sobre a diversidade de gênero, raça, idade, estado civil, nível de instrução, entre outros aspectos dos concorrentes. Essas estatísticas, disponibilizadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), apontam para um cenário de grande pluralidade, mas também evidenciam desafios quanto à representatividade em alguns aspectos.
Perfil dos candidatos
O número de candidatos em Mato Grosso é expressivo, com 10.267 disputando o cargo de vereador e 366 concorrendo à prefeitura. Do total, 65% dos candidatos são homens (7.180) e 35% são mulheres (3.822), destacando um desequilíbrio de gênero que ainda persiste na política.
Segundo o cientista político João Edisom, ao comparar os dados deste ano com os pleitos de anos anteriores, é possível observar pequenos avanços, mas também grandes desafios na política mato-grossense. “Esse crescimento tímido na participação feminina se deve ao fato de que a inclusão das mulheres na política é consequência das dinâmicas sociais. Os homens possuem um histórico milenar de liderança e autogestão. Lembrando que, no Brasil, o voto feminino só foi permitido em 1934. A equiparação na política não ocorre de forma isolada, mas sim como um reflexo das transformações sociais. Por isso, é fundamental que mais mulheres ocupem cargos públicos, para acelerar o processo de equidade. A representatividade se dá pela identidade”, destacou Edisom.
“A equiparação na política não ocorre de forma isolada, mas sim como um reflexo das transformações sociais. Por isso, é fundamental que mais mulheres ocupem cargos públicos, para acelerar o processo de equidade. A representatividade se dá pela identidade”
Quanto ao estado civil, metade dos candidatos são casados (50%), enquanto 38% são solteiros. Há ainda 10% de divorciados/separados judicialmente e 2% de viúvos. A faixa etária predominante entre os candidatos está entre 45 e 49 anos, totalizando 1.845 pessoas, seguida de perto pela faixa dos 40 aos 44 anos, com 1.806 candidatos. De 50 a 54 anos, são 1.748. Os demais estão distribuídos em outras faixas etárias, sendo que 4 candidatos têm entre 85 e 89 anos e apenas 9 acabaram de atingir a maioridade, aos 18 anos.
Educação e raça
Em termos de escolaridade, 36,49% dos candidatos possuem ensino médio completo, seguidos por 33,11% que têm ensino superior completo. Contudo, uma parcela significativa (9,92%) possui apenas o ensino fundamental completo, enquanto outros candidatos apresentam graus variados de escolaridade, desde ensino médio e fundamental incompletos. 2,45% informaram apenas saber ler e escrever.
“A formação escolar é essencial. Isso não significa que a escolaridade, por si só, garante um representante de qualidade. Não defendo que o direito de se candidatar seja retirado por causa do nível de escolaridade, mas acredito que ao exercer o cargo, a pessoa deveria buscar essa formação. Não podemos depender apenas da experiência prática, sabendo que há um conjunto de conhecimentos necessários que precisam ser dominados. Não se deve cercear a liberdade, mas exigir o esforço para adquirir o conhecimento necessário para criar leis melhores e melhorar a sociedade”, destacou Edisom, reforçando que a escolaridade e a experiência política dos candidatos impactam diretamente na qualidade das propostas e na capacidade de implementação das políticas públicas.
“Quando falamos sobre diversidade, precisamos abordar também a questão racial em uma sociedade que viveu sob a condição de escravatura. A representatividade se dá pela identidade e pela defesa. Quando colocamos uma pessoa branca para defender a negritude, ela não consegue ter o mesmo sentimento ou conexão entre o que é, o que sente e o que deseja ser”
A diversidade racial também se faz presente: 52,61% dos candidatos se declararam pardos, 33,53% brancos e 11,19% pretos. Apenas 1,15% dos candidatos se identificaram como indígenas, representando 126 pessoas, e 1% se declarou quilombola, totalizando 87 candidatos. Há ainda candidatos que se declararam amarelos (0,73%) e 0,8% que optaram por não informar.
“Quando falamos sobre diversidade, precisamos abordar também a questão racial em uma sociedade que viveu sob a condição de escravatura. A representatividade se dá pela identidade e pela defesa. Quando colocamos uma pessoa branca para defender a negritude, ela não consegue ter o mesmo sentimento ou conexão entre o que é, o que sente e o que deseja ser. A diversidade na ocupação dos cargos públicos é necessária para que a representatividade tenha legitimidade”, pontuou João Edisom.
Para a presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso, desembargadora Maria Aparecida Ribeiro, os dados evidenciam a complexidade e a diversidade do cenário eleitoral em Mato Grosso. “À medida que as eleições se aproximam, fica cada vez mais claro que, embora haja uma variedade de perfis entre os candidatos, a luta por uma representatividade mais ampla e equitativa ainda é necessária. A participação de todos os segmentos da sociedade nas eleições é fundamental para garantir que as políticas públicas reflitam de fato as necessidades e os interesses de toda a população. A Justiça Eleitoral de Mato Grosso tem empreendido diversas campanhas de incentivo à participação política de todos os segmentos da sociedade”, destacou a desembargadora.
(Fonte: TER de Mato Grosso)