Dia da Sobrecarga da Terra – O que essa importante data tem a nos dizer sobre as atividades humanas

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O Dia da Sobrecarga da Terra (Earth Overshoot Day) marca a data em que a demanda sobre a natureza vai além do que o planeta pode regenerar durante um ano.

Nesta ocasião, a humanidade terá utilizado todos os recursos naturais e serviços ecológicos do referido período, incluindo a capacidade dos ecossistemas naturais de absorverem as emissões de carbono a partir da queima de combustíveis fósseis.

A data este ano será no dia 22 de agosto de 2020.

Ou seja, de 01 de janeiro a 22 de agosto de 2020, teremos utilizado tanto da natureza quanto a Terra pode renovar no ano inteiro.

Mas o que isso implica nas atividades humanas? O que nós como sociedade podemos fazer para “mover a data”? A pandemia da Covid-19 impactou de alguma forma a data este ano?

Para responder a estas perguntas, realizamos uma entrevista junto ao Marcos Matias, presidente da Schneider Electric Brasil, empresa líder na transformação digital do gerenciamento de energia e automação, que atua em conjunto com a Global Footprint Network para fomentar uma conversa estratégica sobre a geração de negócios sustentáveis de longo prazo.

Nesta linha de atuação, os esforços combinados de ambas as empresas, propiciou a criação do e-book “Strategies for One-Planet Prosperity: How to build lasting business success on a finite planet” (Estratégias para a Prosperidade em Um Planeta: Como construir um sucesso comercial duradouro em um planeta finito). O qual apresenta a postura que as organizações precisam adotar para se manterem relevantes em um mundo moldado pela mudança climática e por restrições de recursos, trazendo vantagens competitivas a longo prazo, ao tempo em que se planeja o futuro para apoiar as necessidades humanas de bem-estar e segurança de recursos.

Eis que adotando esta forma de atuação, seja em nosso cotidiano ou nas organizações, conseguimos contribuir para mover a data do Earth Overshoot Day, tornando-nos mais bem posicionados, com uma visão de futuro consciente.

Relevante a temática, o Marcos Matias também atua como porta-voz da ODS 7 (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU), que possui como objetivo principal garantir o acesso universal à eletricidade por um custo razoável até 2030, complementando a abordagem integrada da questão.

Como começou o Earth Overshoot Day (Dia da Sobrecarga da Terra)? O conceito do Earth Overshoot Day (Dia da Sobrecarga da Terra) foi criado por Andrew Simms, da New Economics Foundation do Reino Unido, que se associou à Global Footprint Network em 2006, para lançar a primeira campanha global do Earth Overshoot Day. É interessante mencionar que naquela época o Earth Overshoot Day ainda caía no mês de outubro.

Quais tipos de referências e indicadores são utilizados para prever a data? De modo análogo a gestão de uma conta bancária, onde rastreamos créditos e débitos, a Global Footprint Network mede a demanda gerada pela humanidade pelos recursos naturais e serviços providos pelos ecossistemas. Esses cálculos servem de base para o cálculo do Earth Overshoot Day.

Do lado da oferta, a biocapacidade de uma cidade, estado ou nação representa sua extensão territorial e costeira biologicamente produtiva, incluindo florestas, pastagens, terras agrícolas, áreas de pesca e áreas construídas.

Do lado da demanda, a pegada ecológica mede a demanda da população por alimentos vegetais e produtos de fibra, produtos pecuários e pesqueiros, madeira e outros produtos florestais, espaço para infraestrutura urbana e as áreas florestais necessárias para absorver suas emissões de dióxido de carbono oriundas de combustíveis fósseis.

Ambas as medidas são expressas em hectares globais, passíveis de serem comparados com adoção de valores médios para produtividade mundial. (Um hectare é equivalente a 10.000 metros quadrados).

A pegada ecológica de cada cidade, estado ou nação pode ser comparada à sua biocapacidade. Se a demanda de uma população por ativos ecológicos exceder a oferta, essa região terá um déficit ecológico. Uma região com déficit ecológico atende à demanda importando, liquidando seus próprios ativos ecológicos (como a pesca predatória) e/ou emitindo dióxido de carbono na atmosfera.

Globalmente, o déficit ecológico e o overshoot são os mesmos, já que que os recursos são finitos e não existem formas de importação líquida de recursos para o planeta.

Levando em consideração as análises do histórico e os anos anteriores, a data do Earth Overshoot Day tem se aproximado ou se distanciado? A década de 70 foi o último período onde tivemos um balanço compatível com a capacidade de nosso planeta, desde então a data em que atingimos nosso cheque especial ambiental ocorre cada vez mais cedo, com uma demanda de capacidade de dois planetas terra.

A cada dia que passamos em sobrecarga, ou seja, datas mais para o final dos meses do ano, nós geramos algum de tipo de “consumo de estoque”, que influenciará inclusive o quanto a Terra conseguirá se renovar? O Earth Overshoot Day marca a data em que a demanda da humanidade por recursos e serviços ecológicos em um determinado ano excede a capacidade de regeneração da Terra, no mesmo período. Mantendo esse déficit, estamos liquidando os estoques de recursos ecológicos e acumulando resíduos, principalmente dióxido de carbono na atmosfera, contribuindo para a redução acelerada da biodiversidade e o aquecimento global.

O que é preciso fazer por nós, como sociedade e individualmente, para conseguir “mover a data”? Basicamente existem cinco linhas de atuação:

Planeta – No que tange ao planeta, preservar os diferentes biomas e restaurar áreas degradadas, promover em larga escala a agricultura regenerativa e a pesca sustentável, assim como buscar a neutralidade de carbono, para conter as mudanças climáticas. Essas ações estão diretamente associadas às metas contidas nos ODS 14 e 15.

Cidades – Em 2050 teremos entre 70% a 80% das pessoas vivendo em cidades. Obrigatoriamente elas precisam ser “cidades inteligentes”, pautadas em construções sustentáveis, com aparelhos integrados e uma menor necessidade de grandes deslocamentos, permitindo o desenho de um sistema de transporte coletivo que seja seguro, eficiente, sustentável e acessível para todos. Essas ações estão diretamente associadas às metas contidas no ODS 11.

Energia – a pegada de carbono da humanidade corresponde a 57% de sua pegada ecológica. Existe a necessidade eminente da substituição da geração de energia por combustíveis fósseis, pelas fontes renováveis, além da massiva implementação de medidas de eficiência energética e o fomento a mobilidade elétrica – Essas ações estão diretamente associadas as metas contidas no ODS 7.

Alimentos – Uma combinação da redução do consumo de carne/desperdício de alimentos, tem o potencial de diminuir a necessidade de novas áreas de pastagens ou plantadas. Tudo isso combinado com ações nas cadeias de fornecimentos relacionadas ao manuseio, conservação e transporte dos alimentos – Essas ações estão diretamente associadas as metas contidas no ODS 2 e 12.

População – A solução está no real empoderamento das mulheres e meninas, permitindo seu amplo desenvolvimento e acesso a oportunidades através de políticas de balanço de gênero, associadas a um melhor planejamento familiar, que permita reduzir o impacto do crescimento populacional sobre a capacidade de regeneração do Planeta – Essas ações estão diretamente associadas as metas contidas no ODS 5.

Qual é o conceito e como está relacionada a pegada ecológica com o Earth Overshoot Day? As comparações financeiras são inevitáveis, podemos dizer que a pegada ecológica é nosso “balanço” demonstrando como está o equilíbrio entre nossos passivos e ativos ambientais e nossa disciplina na gestão do mesmos. Já o Earth Overshoot Day mostra um pouco do nosso “fluxo de caixa ambiental” ao longo do tempo, escancarando nosso endividamento.

É possível deixar nossa pegada ecológica mais sustentável? Sim. Apesar do papel preponderante dos governos e empresas, grande parte da mudança está em nossas mãos. Começando pela simples tarefa de medir nosso impacto com o uso da calculadora da pegada ecológica disponibilizada pelo Global Footprint Network e a Schneider (https://www.footprintcalculator.org/) para entender seu impacto atual e definir seus compromissos pessoais para uma mudança de comportamento.

Como porta-voz da ODS 7 (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU), que possui como objetivo principal garantir o acesso universal à eletricidade por um custo razoável até 2030, que oportunidades e desafios acredita que possam surgir no setor elétrico em um mundo pós pandemia? Primeiro é importante mencionar que reduzir a contribuição das emissões de carbono para Pegada Ecológica da humanidade em 50% postergaria o Earth Overshoot day em 93 dias, ou mais de três meses. No que tange ao setor elétrico, o consumo de eletricidade corresponde apenas a 20% do consumo global de energia, porém, todas as projeções mostram que esta demanda dobrará nos próximos 20 anos, requerendo também que a essa eletricidade venha de fontes neutras em carbono, energias renováveis e armazenamento para permitir o devido controle das emissões de CO2.

Com base em tais premissas, o setor elétrico assumirá um papel relevante, pois a eletricidade é essencial para a criação de uma economia de baixo carbono, sendo responsável pela implementação dos projetos de energia renovável em larga escala, a conexão dos prosumidores (produtor + consumidor), a promoção de medidas de eficiência energética, a modernização das redes para permitir a adoção massiva da geração distribuída/armazenagem e suporte à mobilidade elétrica. No entanto, sem esquecer que ainda é necessário levar energia para mais 840 milhões de pessoas, que hoje não têm acesso a esse direito fundamental.

De acordo com uma análise feita por pesquisadores da Global Footprint Network e Schneider Electric, as tecnologias existentes e prontas para aplicação em edifícios, processos industriais e geração de energia, podem postergar o Overshoot Day por pelo menos 21 dias, sem qualquer perda de produtividade ou conforto.

Que reflexão podemos levar sobre a data de 2020 do Earth Overshoot Day, em termos de histórico e influência da pandemia da COVID-19? A covid-19 fez com que a Pegada Ecológica da humanidade sofresse uma contração abrupta, demonstrando que mudanças de hábitos e padrões de consumo, são possíveis em um curto espaço de tempo. A queda na atividade humana resultou na diminuição de 9,3% na Pegada Ecológica da humanidade, em comparação com o mesmo período do ano passado, atrasando a data do Earth Overshoot Day em mais de três semanas.

Podemos afirmar que a Pandemia pode ser considerada um “freio de arrumação”, pois é necessário preparar uma retomada onde possamos transformar nossa economia, infraestrutura e os modelos de negócios, de forma a conciliar o equilíbrio ecológico e o bem-estar das pessoas.

Reforçando que a situação atual deve servir como linha de base para entender que não temos mais tempo e espaço para procrastinação, pois os efeitos das mudanças climáticas e exaustão dos recursos de nosso planeta podem gerar, em um futuro próximo, crises ou eventos potencialmente muito mais graves, complexos e duradouros que a atual pandemia.

Para todas as empresas, incluindo a Schneider Electric, a questão principal passa a ser: nossos negócios contribuem para o sucesso da humanidade no longo prazo? Essa é a abordagem que melhor garante a criação de valor compartilhado para todos – clientes, fornecedores, investidores e a sociedade como um todo. Mais do que nunca, sabemos que o #MoveTheDate não é apenas uma aspiração, mas a essência para o desenvolvimento de negócios sustentáveis.

Redação Ambientebrasil / Maria Beatriz Ayello Leite

Cooperação: Schneider Electric Brasil / Marcos Matias

Fonte: SMADES – Cuiabá/MT

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