Agro tem oportunidades mesmo em meio à crise mundial

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Por Parecis SuperAgro

A crise mundial gerada pela pandemia de Covid-19 e a guerra entre Rússia e Ucrânia geram insegurança em diversos setores. O impacto no agronegócio de Mato Grosso, que tem relações comerciais importantes tanto com a China – onde houve o surto inicial do novo coronavírus – como com ucranianos e russos, é preocupação de produtores rurais e demais componentes desta cadeia.

Marcos Jank, renomado professor especialista em agronegócio global, falou sobre geopolítica do agro e tendências dos mercados em palestra nesta quinta (31.03), na Parecis SuperAgro, em Campo Novo do Parecis. “Tivemos muitas alterações nestes últimos três anos que impactaram em energia, agricultura, minerais e fertilizantes. Por isso, trouxe informações sobre preços e custos de produção e busco verificar se toda essa crise não gera oportunidades para o Brasil”, disse.

Ele acredita que, apesar de a Rússia ser o principal fornecedor de fertilizantes para o Brasil, o momento não é de preocupação com a falta do produto. “Não temos problema de bloqueios. Há, sim, demora na entrega do produto pela alta demanda, mas os produtores já vinham diminuindo a utilização por causa da alta nos preços”, comentou.

Em debate após a palestra, o superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Cleiton Gauer, disse que o Brasil demanda 12 milhões de toneladas de cloreto de potássio. Em um cenário hipotético de agravamento da guerra e com a impossibilidade de importar o fertilizante, ainda há reserva no solo de duas a três milhões de toneladas, por causa da quebra de safra ocorrida no último ciclo. Desta forma, a necessidade brasileira ao mercado russo seria de 2,5 milhões de toneladas.

Apesar das sucessivas crises mundiais, o agronegócio se saiu bem nos últimos anos, segundo análise de Jank. “Os preços internacionais subiram bastante após a pandemia. Tivemos desvalorização cambial, os estoques mundiais estavam baixos e a demanda asiática, firme. Tudo isso foi boa notícia para quem exporta, principalmente na região do Parecis, que é fortíssima em soja, milho e algodão”, explicou.

Mesmo com preços remuneradores, os produtores rurais perceberam a alta significativa nos custos de produção, em itens como maquinários, suprimentos, produtos como glifosato e fertilizantes. “Já havia um certo desequilíbrio entre oferta e demanda nesse setor. Com a guerra, isso se agravou, mesmo com preços bons. A volatilidade dos preços sempre foi o grande problema da agricultura e acredito que é preciso se precaver”, afirmou.

Para o especialista, apesar do cenário positivo para o agro nos últimos anos, é preciso que o produtor continue tendo cuidado com os custos de produção, para não ficar sem liquidez. Outros pontos como comercialização e questões regulatórias demandam atenção.

Em relação à China, Jank disse que é um “casamento inevitável”. “A China é a responsável pelo grande crescimento da soja, do milho, do algodão, do açúcar, da carne bovina e da carne de frango aqui no Brasil porque é a principal demandante destes produtos”, informou.

Em 2020, a exportação brasileira do agronegócio foi de US$ 120 milhões, metade do total das exportações nacionais, e 40% foi para a China. A Ásia segue sendo o foco das exportações brasileiras, afirmou Marcos Jank, e apontou que 60% das exportações do agronegócio brasileiro irão para China, Sudeste asiático e Oriente Médio.

Há que se conquistar, a médio prazo – algo em torno de 20 anos, o mercado indiano, que tem uma população jovem e, em sua maioria, rural. Em um prazo mais longo, cerca de 40 anos, a África poderá ser um potencial mercado. “Demanda potencial há, mas a demanda real é a China. E o questionamento que faço é se temos acesso a esses mercados. Nós conhecemos o mercado, mas eles não conhecem o Brasil, é preciso melhorar nossa imagem na região”, disse Jank.

O especialista citou ainda os países que serão protagonistas no agronegócio mundial: países da América do Sul, não só do Mercosul, os Estados Unidos, a Rússia e o Leste Europeu. “O Brasil tem um grande potencial que é o crescimento da produtividade sem avançar em áreas de floresta. O fenômeno da década é a Integração Lavoura-pecuária (ILPF), vantagem que temos sobre os Estados Unidos, que não conseguem trabalhar desta forma em seu território”, disse.

Para o superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Chico da Paulicéia, em momentos delicados como o que o mundo está vivendo é preciso ter uma direção. “Em momentos tão incertos, é bom termos ao menos uma bússola, um rumo a seguir para mitigar a maior parte dos riscos”, afirmou.

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