Por Ivan Verona
Em tempos de pandemia e surgimento de novas doenças, é importante que
a população esteja protegida e com seus índices de saúde controlados.
Vários estudos pelo mundo têm mostrado o papel fundamental da vitamina
D na modulação da imunidade inata, sendo capaz de atacar agentes
agressores de forma a impedir seu avanço e multiplicação dentro do
organismo. Pensando nestas questões, Renato Leça, nutrólogo,
oftalmologista, pesquisador sobre vitamina D e professor da Faculdade
de Medicina do ABC, tira as principais dúvidas sobre o assunto:
9 fatos que você precisa saber sobre vitamina D
São Paulo, 2 de abril de 2020 – Em tempos de pandemia e surgimento de
novas doenças, é importante que a população esteja protegida e com
seus índices de saúde controlados. Vários estudos pelo mundo têm
mostrado o papel fundamental da vitamina D na modulação da imunidade
inata, sendo capaz de atacar agentes agressores de forma a impedir seu
avanço e multiplicação dentro do organismo. Pensando nestas questões,
Renato Leça, nutrólogo, oftalmologista, pesquisador sobre vitamina D e
professor da Faculdade de Medicina do ABC, tira as principais dúvidas
sobre o assunto:
O que é a Vitamina D e para que serve?
A vitamina D é um micronutriente que, entre outras funções no corpo,
atua no funcionamento do sistema imunológico, auxilia na absorção de
cálcio e tem papel importante no equilíbrio do açúcar no sangue. Ou
seja, atua como um hormônio multifuncional, já que diversas células e
tecidos possuem receptores para síntese da vitamina. A deficiência
dessa vitamina está comprovadamente ligada a uma série de doenças,
como as doenças autoimunes, o diabetes, a osteoporose.
Eu preciso tomar vitamina D? De quanto precisamos?
Estudos mostram que 77% da população brasileira têm vitamina D abaixo
de 20ng/ml, considerado insuficiente. E níveis adequados de vitamina D
são muito importantes para a manutenção da saúde. A dose ideal para
cada paciente varia de acordo com seu perfil. Quando há deficiência é
possível fazer uma dose de ataque inicial mais alta, para melhorar o
estoque desta vitamina. Depois é mantida doses que podem variar de
acordo com o estado de cada paciente. É importante consultar um médico
para entender sua necessidade.
Existe um grupo de risco para a falta de Vitamina D?
Vivemos uma reconhecida pandemia de hipovitaminose D¹ ², comprovada
cientificamente, então todos temos que nos atentar a isso mas
especialmente idosos, gestantes, lactantes, pacientes bariátricos ou
com raquitismo, osteomalácia, hiperparatireoidismo, doenças
inflamatórias, doenças imunes, doença renal crônica, entre outras
situações que merecem maior atenção aos níveis sanguíneos dessa
vitamina no organismo. Somado a isso, os pesquisadores do
Departamento de Clínica Médica da Escola de Medicina da Universidade
Trinity College, em Dublin, na Irlanda, concluíram que a falta da
vitamina no ponto de corte menor a 30 nmol/L deve ser revertida para
evitar doenças ósseas, uma estratégia que também pode proteger a
função do músculo esquelético no envelhecimento.
Qual a forma adequada para se obter bons níveis da Vitamina D?
Para que a formação da vitamina D no organismo seja adequada, é
necessária a exposição solar de, no mínimo, 15 minutos diários, de
preferência entre 10h e 14h, momento de maior presença dos raios UV,
responsáveis por ativar o metabolismo de formação da vitamina D a
partir da pele, com pelo menos os braços descobertos – quanto maior a
área de exposição do corpo à luz solar melhor –, sem o uso de
protetores solares, que atrapalham a ativação das vias metabólicas de
formação da vitamina D.
A rotina das grandes cidades nem sempre permite a síntese de vitamina
D por raios solares, contudo, é possível absorver a vitamina em alguns
poucos alimentos, como peixes gordurosos, óleo de fígado de bacalhau e
cogumelos secos. Leite, ovos e fígado bovino também têm a vitamina,
mas em menor quantidade. Também é uma alternativa bastante
interessante repor a vitamina D por meio de suplementação. Em um
trabalho científico que realizamos na Faculdade de Medicina do ABC em
parceria com a Unifesp, observamos que os estudantes de medicina que
praticavam exercícios em quadras cobertas apresentaram níveis de
vitamina D cerca de 40% menor que seus colegas que praticavam
exercícios ao ar livre, e além disso, o nível médio de vitamina D do
grupo da quadra mostrou-se na faixa da insuficiência , mesmo tendo uma
boa alimentação, por isso a suplementação é importante.
Então existem suplementos que substituem alimentos e exposição solar?
Para aqueles casos em que a combinação de exposição solar e
alimentação não é suficiente, é possível fazer uso de suplementos de
vitamina D – a partir da recomendação médica -, a fim de fazer uma
reposição ou até mesmo a manutenção dos índices ótimos da vitamina no
organismo.
O que a deficiência de Vitamina D pode causar?
A falta dela pode aumentar o risco de problemas cardíacos,
osteoporose, alguns tipos de câncer, gripes e resfriados, e doenças
autoimunes como esclerose múltipla e diabetes. Em mulheres grávidas
deficiência de vitamina D pode aumentar o risco de parto prematuro e
favorecer a pré-eclâmpsia. Vários estudos já mostraram que pessoas que
vivem em ambientes urbanos são mais carentes em vitamina D. Isso
ocorre porque elas passam grandes períodos em locais fechados e não se
expõem ao sol.
É importante estar com a vitamina D regulada durante a pandemia de coronavírus?
Um estudo italiano recente, realizado por cientistas da Universidade
de Turim, aponta que os pacientes que foram infectados pelo Covid-19
apresentam baixos níveis de vitamina D. Não se trata de uma prevenção,
mas de estar com o sistema imune funcionando adequadamente. Como a
vitamina D tem ação imunomoduladora comprovada cientificamente é
importante manter seus níveis adequados nesse momento.
Então, a vitamina D é um apoio no tratamento da Covid-19, mas não a
cura, já que ajuda na imunidade?
Sim, a vitamina D em níveis adequados certamente auxilia a manter
resistência do organismo em dia. Vale salientar que como não temos
ainda anticorpos a esse vírus, a principal linha de ataque do
organismo acontece pela imunidade inata, que é modulada pela vitamina
D, daí sua grande importância para a defesa do nosso organismo.
A suplementação por vitamina D tem algum papel para determinar a
gravidade de uma infecção pelo coronavírus?
Segundo o ex-chefe do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos
Estados Unidos, Tom Frieden, a suplementação de vitamina D reduz o
risco de infecções respiratórias, regula a produção de citocina e pode
limitar o risco associado a outros vírus, como de Influenza. Mas não
se sabe ainda se a vitamina D desempenha algum papel no nível de
gravidade da infecção por Covid-19. Dada a prevalência da
hipovitaminose-D, ele aponta ser seguro recomendar que as pessoas
tomem doses diárias da vitamina. É difícil obter essas doses por meio
apenas da exposição ao sol e da alimentação, especialmente entre
alguns grupos populacionais. Hábitos modernos levam a população a
passar grande parte do dia em ambientes internos (em casa,
escritórios, fábricas etc) e poucos alimentos são ricos em vitamina D.