Trata-se de um mal que se propaga silenciosamente dentro dos relacionamentos e e pode levar a vítima a ficar completamente refém de seu abusador
Por Ana Luiza Queiroz
Relacionamentos são uma das mais importantes partes da vida de uma pessoa. Desde os relacionamentos familiares, as amizades até os relacionamentos românticos, eles marcam e moldam de uma forma que se torna impossível viver sem eles.
Apesar disso, existem relacionamentos que causam mais malefícios do que benefícios. Os relacionamentos abusivos, caracterizados pelo controle e poder abusivo exercidos sob a vítima, são um perfeito exemplo de malefício.
Desde críticas, humilhações e até a violência física, o relacionamento abusivo é um mal que se propaga silenciosamente dentro dos relacionamentos e geralmente apenas mostra sinais graves quando a vítima já está completamente refém de seu abusador.
Não existe um tipo de pessoa mais suscetível a estar em um relacionamento abusivo — isso pode acontecer com qualquer pessoa, independente da idade, gênero ou orientação sexual.
Por conta de seu desenvolvimento gradual, a vítima acaba encontrando dificuldades em se desvencilhar dessa relação. Existe um balanço a ser mantido pelo abusador no começo do relacionamento: ele trata sua vítima bem, com diversas demonstrações de amor e carinho, para que em seguida qualquer insulto seja desconsiderado.
As agressões começam pequenas, com comentários maldosos feitos para atingir a autoestima ou um leve controle acerca do que a vítima está fazendo ou com quem ela conversa. Com um ritmo mais sedado, o abusador lentamente passa a assegurar seu lugar de poder na vida da vítima, garantindo que a longo prazo ela enxergue ele como alguém a
ser temido.
Autoestima abalada
O abusador faz a vítima dependente dele. Depois que a autoestima da vítima é abalada, ela começa a enxergar seu abusador como uma pessoa em que ela precisa depender. Muitas vítimas acreditam que sem esse relacionamento, provavelmente elas não irão conseguir se envolver novamente com outra pessoa por pensarem que não são boas o suficiente.
Outras se culpam pelo o que o relacionamento se tornou, acreditando que qualquer situação ruim foi causada pelo comportamento delas. O abusador manipula a vítima, fazendo com que ela acredite que apenas ele a ama e entende, e que portanto não existirá outro alguém capaz de aturá-la como ele faz.
As consequências desse tipo de relacionamento são devastadoras para a saúde mental e física da vítima. Muitas delas desenvolvem problemas graves na auto estima, como também depressão e ansiedade.
Além disso, recuperar-se de um relacionamento abusivo é algo que leva tempo e a maioria das vítimas sente dificuldade para confiar novamente. Fora o dano psicológico, existem abusadores que também violentam fisicamente suas vítimas, e essa violência constante pode causar traumas irreversíveis.
Ingenuidade aproveitada
Relacionamentos abusivos geralmente são difíceis de deixar para trás porque as táticas de manipulação usadas pelos abusadores garantem que a vítima fique na maior parte do tempo isolada de qualquer forma de apoio externo.
Sem contato com família ou amigos, a vítima muitas vezes é incapaz de perceber completamente que está em uma situação ruim. Muitas vítimas, na realidade, sentem vergonha de expor o que estão passando justamente porque seus abusadores as fazem pensar que elas são o problema.
M.S, que preferiu não ser identificada, conta sua experiência com um relacionamento abusivo que teve com sua ex-namorada: “Eu era muito nova e inocente, e ela foi minha primeira namorada. Ela se aproveitou bastante da minha ingenuidade na época, ainda mais porque ela já tinha namorado antes. Por eu não ter parâmetro do certo ou errado em um relacionamento, ela tinha liberdade para agir como bem entender e eu confiava nela apesar de algumas pessoas me falarem que o que ela fazia comigo era errado.”
Afastamento dos amigos
Ela continua: “Porque meu tipo físico é parecido com o da ex dela, ela também constantemente comparava nós duas e me criticava por conta de qualquer detalhe. Ela também comparava as minhas atitudes com outras mulheres mais velhas que ela conhecia, dizendo que eu era imatura”.
“Sempre que eu fazia algo de errado, ela não hesitava em brigar comigo e usava esses motivos no futuro também, para tentar me deixar culpada. Eu tinha medo de falar qualquer coisa perto dela e ser taxada, sabe? Foi bastante desgastante, nenhum amigo meu gostava dela”, acrescenta.
“E quando o relacionamento ficou pior, muitos dos meus amigos pediram para que eu escolhesse entre eles ou ela. Quando eu contei isso para ela, minha ex me convenceu a me afastar deles, alegando que eles não queriam meu bem, e eu fiquei isolada”, prosseguiu. M.S, então, termina seu depoimento: “Ela também nunca quis me apresentar para família dela, e não é por causa do medo de rejeição. A família dela não é homofóbica, eles sempre souberam que ela gosta de mulheres também. Ela dizia que não queria me apresentar para eles porque eu era o problema, e que eles encontrariam milhares de defeitos em mim e ela não queria passar por isso.”
Tratamento é recomendado
O primeiro passo para a vítima sair de um relacionamento abusivo é ela reconhecer que não tem culpa do que está acontecendo. A dependência que a vítima tem do abusador é algo difícil de se desvencilhar, mas o apoio da família e amigos pode diminuir esse trauma se a rede de suporte for constante.
O tratamento profissional também é recomendado, principalmente se a vítima do relacionamento abusivo apresenta problemas psicológicos como depressão, ansiedade ou estresse pós-traumático.
A violência emocional e física também é crime, e a vítima ou qualquer amigo ou familiar dele podem denunciar através da Central de Atendimento à Mulher, discando o número 180, ou pelo Disque Direitos Humanos, discando o número 100.